Em creches públicas VIP, bebês têm solário, cinco refeições e até massagem
A fila por uma vaga nas 1.828 creches municipais de São Paulo já bate nos 146 mil inscritos. Mas, um privilegiado grupo de 1.300 crianças conseguiu, além de vencer a espera de meses, ficar em uma unidade pública VIP, com direito a massagem, cinco refeições diárias e professores com formação permanente. Ao todo, são 362 unidades de atendimento a bebês de zero a três anos geridas por várias organizações sociais. Na creche Jardim Edite, na zona sul, semanalmente, massagistas do hotel Sheraton fazem shantala nos bebês, técnica indiana para aliviar cólicas e que tem poder de relaxamento nos pequenos. O local conta com enfermeiros, mobiliário desenhado exclusivamente para crianças, participação ativa dos pais nas atividades dos filhos e fornece cinco refeições por dia.
"O dinheiro é importante, mas o segredo da qualidade está em uma boa gestão. Só detectar um problema não adianta. É preciso saber como agir diante dele", afirma Nancy Coutinho, coordenadora-geral das unidades.
Em outra creche mantida pela Liga, a Casa da Infância do Menino Jesus, perto da rodovia Raposo Tavares, zona oeste, a arquitetura favorece a integração, a saúde e a segurança dos 260 alunos.
A cada duas salas de aula, que têm no máximo 14 alunos cada, há um banheiro. Além disso, todas as salas —equipadas com livros, aparelho de som e brinquedos— têm acesso direto a um solário. Completa o pacote uma área coletiva de lazer com 200 m², piso emborrachado, triciclos, balanços e jogos.
Pai dos gêmeos João Pedro e Matheus, de dois anos, o comerciante Edson dos Santos, 46, diz que, até hoje, fica "boquiaberto" com o tratamento que os filhos e ele recebem na unidade.
"Procurei creches particulares perto da minha casa [na região do Rio Pequeno] e nenhuma tinha essa estrutura. Até gente de classe média tenta vaga aqui. Gosto também do contato que eles têm com os pais. Ajudam dando dicas de saúde, alimentação", diz.
A busca presencial por vaga na Menino Jesus —504 pedidos até setembro—é maior do que em outras creches públicas da mesma região, como Rio Pequeno (194) e Itaim Bibi (214).
Para "adotar" uma creche, a Secretaria Municipal da Educação exige que a instituição não tenha fins lucrativos —o serviço deve ser gratuito— e não esteja entre os devedores do município. A organização precisa ainda ter ao menos três anos de registro e não ter servidores públicos entre seus dirigentes.
As atividades são monitoradas, e são exigidos relatórios semanais de desempenho, despesas e estoques.
Segundo a secretaria, para atingir a meta de atendimento de 100% da demanda por vagas até 2025, "a parceria com a sociedade civil continuará sendo uma estratégia importante".