Por Carmen Munari
SÃO PAULO (Reuters) - No segundo debate entre os candidatos que concorrem à prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que duelam por uma vaga no segundo turno da eleição, buscaram uma polarização com Marta Suplicy (PT), líder das pesquisas de intenção de voto. Ela não escapou nem de Ciro Moura, do pequeno PTC.
A petista, por sua vez, crivou os concorrentes de críticas. Alckmin foi tímido nos embates a Kassab (DEM), mantendo sua posição dúbia em relação à gestão municipal -- que tem maioria de tucanos -- enquanto o prefeito soltou apenas uma farpa ao ex-governador ao revidar ataque à área de educação.
Foi no segundo dos cinco blocos do debate realizado pela TV Bandeirantes, na noite de quinta-feira, que a temperatura começou a subir, quando a petista, que ocupou a prefeitura entre 2001 e 2004, perguntou a Alckmin como ele enfrentaria os problemas da segurança pública já que, quando governador (2001-2006), a capital enfrentou uma "situação trágica" com a ascensão do PCC (Primeiro Comando da Capital), grupo que atua dentro de presídios.
"No seu governo, São Paulo viveu a pior crise de segurança, e São Paulo viveu uma situação trágica com o PCC", disse Marta.
Alckmin pareceu surpreso e acusou a ex-prefeita. "Não cumpriu com sua obrigação, vem jogar pedra", revidou, afirmando ainda que os índices de criminalidade caíram em sua gestão no Estado.
No bate-boca, Marta questionou o ex-governador. "Me espanta a resposta porque parece que vivemos em cidades diferentes, em realidades diferentes", respondeu, ao mesmo tempo em que acusou a gestão do PSDB e do DEM na capital de extinguir a Secretaria de Segurança Pública municipal, criada em sua gestão. Alckmin não citou que seu programa prevê a recriação da secretaria, mas afirmou que vai colocar 18 mil câmeras de vídeo para vigiar a cidade.
Ele acusou a ex-prefeita de ter aumentado impostos e mesmo assim ter deixado um rombo no caixa da prefeitura. Ela respondeu que encontrou a cidade falida, após as gestões de Paulo Maluf (PP), candidato nesta eleição presente ao debate, e de Celso Pitta e que suas contas forma aprovadas pela Justiça. Afirmou ainda que a atual administração não sabe aplicar os recursos do orçamento municipal.
"A gestão PSDB-Demo (DEM) é uma gestão que deixa dinheiro para os banqueiros, deixando de fazer corredor, creches", criticou Marta. Alckmin disse que a "verdade é bem diferente" e que ela deixou obras paradas.
"MENTIRA QUE VIRA VERDADE"
Apenas no terceiro bloco Alckmin levantou problemas na gestão atual da prefeitura, apontando deficiências na saúde, área que ele vem atacando e que tem um dos piores índices de satisfação do paulistano.
"Hoje o maior problema de São Paulo é a saúde", disse, apontando falta de 1.500 médicos, necessidade de melhorar as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e prometendo criar 10 centros de especialidades para realizar exames, além da construção de três hospitais.
Também sobrou para Marta nesta área, desta vez por parte de Kassab. "Você foi mal na saúde, por isso você não foi reeleita", atacou o prefeito, em crítica recorrente à administração da petista.
Na seqüência, quando Marta disse que a prefeitura tem 4 milhões de reais em caixa porque não sabe investir os recursos, Kassab disse que "tomara que a Marta não ganhe porque ela vai quebrar a prefeitura de novo. Temos que ter dinheiro em caixa para pagar as contas."
Marta reagiu com frase atribuída a Joseph Goebbels, ministro da propaganda do Partido Nazista alemão: "Uma mentira repetida mil vezes vira verdade." E arrematou: "Vou dizer uma das inverdades que o candidato tem falado, que as escolas de lata foram feitas na minha gestão, não foram. Foram produzidas todas na gestão do Pitta, na qual Kassab era o secretário de Planejamento."
O prefeito pediu direito de resposta, o único do debate, mas não recebeu autorização da produção do programa.
Alckmin ainda apontou a necessidade de 158.000 vagas em creches e escolas. "Não é possível", disse. A resposta de Kassab veio nas considerações finais. "Vamos mostrar qual é o candidato que tem melhores condições. O Alckmin ficou doze anos à frente do Estado e a educação não foi bem. E a ex-prefeita, quando fala em vagas na creche, parece que nem foi prefeita."
Entre os candidatos de pequenos partidos, Ciro Moura (PTC) também escolheu Marta como alvo. Entre as críticas, questionou suas propostas para o metrô e, ao receber a resposta, perguntou: "Você acredita em Papai Noel? Vai começar tudo de novo!"
Mas nem tudo foi bate-boca. O debate mostrou uma troca de gentilezas entre Kassab e a candidata Soninha Francine (PPS), atualmente vereadora. Em temas como a política ambiental e a educação, ela, mesmo tecendo críticas, fez elogios ao prefeito.
Participaram ainda Ivan Valente (PSOL) e Renato Reichmann (PMN). Para que um candidato possa participar, segundo a legislação eleitoral, é preciso que o partido tenha representação na Câmara dos Deputados, por isso três deles ficaram de fora: Anaí Caproni (PCO), Levy Fidélix (PRTB) e Edmilson Costa (PCB).
(Edição de Pedro Fonseca)
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