domingo, 25 de março de 2012

Vencidas as prévias, Serra joga biografia em SP - Josias de Souza




Confirmado nas prévias tucanas como candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra tenta virar a página de sua biografia. Para trás. Seu primeiro desafio será o de convencer o eleitor paulistano de que não enxerga na poltrona de prefeito, que já ocupou, um assento de segunda classe.
O sonho de Serra, como se sabe, é outro. Carrega dois malogros. A derrota de 2010, para Dilma Rousseff, foi seu segundo infortúnio presidencial. O primeiro ocorrera em 2002, contra Lula. Por sua vontade, iria à sorte dos votos, em 2014, na cena federal. Interditado pelo partido, viu-se compelido a olhar para São Paulo.
Daí o desafio. Para convencer o eleitor da província de que merece ser eleito, Serra terá de provar que fala sério quando diz que “o sonho da Presidência está adormecido”. Mais: precisa demonstrar um interesse tal que leve o dono do voto a descrer da hipótese de que suas ambições federais podem despertar repentinamente depois de eleito.
Serra tem contra si, além da natural desconfiança do eleitorado, a pregação dos antagonistas. Fernando Haddad, o rival do PT, não se cansa de ressuscitar o compromisso que Serra assumiu em 2004 e descumpriu em 2006, ao trocar a prefeitura pelo governo do Estado.
Empurrado pelas contingências para uma disputa da qual preferia se abster, Serra tem diante de sia duas alternativas: ou vence ou vence. Perdendo, sua capacidade de operar nacionalmente evolui do sono leve para o coma profundo. Retornando à prefeitura, obtém um mandato que lhe devolve pelo menos a voz.
O momentâneo aprisionamento de Serra no município libera o PSDB federal para conduzir o projeto Aécio Neves-2014, hoje apoiado pela maioria da legenda. É algo que Serra não tem como evitar. Porém, elegendo-se prefeito, ele ganha uma desenvoltura que vai lhe permitir atrapalhar.
Sempre que perguntado sobre a pretensão presidencial de Aécio, Serra declara que o senador mineiro, por quem cultiva mágoas insanáveis, é apenas mais um nome. Empilha vários outros: os governadores Geraldo Alckmin, Marconi Perillo e Beto Richa, por exemplo. Adiciona à lista o senador Aloizio Nunes, do seu grupo político.
São poucos os tucanos que apostam na hipótese de Serra deixar a prefeitura caso venha a ser eleito. O risco de desmoralização desaconselha a ousadia. Mas não há quem duvide de que, eleito, Serra fará o que puder para impedir que Aécio represente o PSDB na próxima sucessão presidencial.

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