RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo
Candidato a franco-atirador da eleição paulistana, o deputado federal Ivan Valente (PSOL), 61, diz que vai compensar o seu minúsculo tempo de TV com a participação nos debates, quando, afirma, pretende mostrar que os principais candidatos não têm propostas estruturantes para a cidade.
Fundador do PT e por 23 anos membro de seu diretório nacional, Valente rompeu com o partido em 2005.
Segundo a última pesquisa Datafolha, realizada em 15 de maio, Valente tem 1% das intenções de voto. Ele apresenta propostas como a renegociação da dívida do município, mais verbas para a educação e uma "inversão de prioridades".
FOLHA - O sr. acredita realmente que pode ir ao segundo turno, ou a candidatura é para marcar posição?
IVAN VALENTE - A candidatura é pra valer, para mostrar que somos o único partido que tem diferenças efetivas com os blocos que estão aí. Vamos fazer um desafio público aos candidatos, para que adotem o teto público de campanha. E fica proibido receber da iniciativa privada.
Eu acho que a imprensa deveria fazer campanha por essa proposta se ela fosse coerente com o que todo dia publica. É a raiz da corrupção. Você quer um escândalo maior do que que a queda do metrô de São Paulo. As cinco maiores empreiteiras que estão lá financiaram todos os grandes candidatos. E também vamos recolocar um problema abandonado pelo PT e que nunca foi adotado pela direita clássica, que é fazer um debate completo do orçamento com a população. É preciso uma inversão de prioridades.
Quem comanda a cidade hoje são as grandes corporações. A cidade de São Paulo precisa de um choque de universalização de direitos. A saúde pública e a educação pública estão totalmente sucateadas. E não ouço nenhum candidato falar que vai renegociar a dívida pública da cidade, nós vamos fazer isso.
FOLHA - O Itamar Franco tentou em Minas e teve os repasses federais retidos.
VALENTE - Aí é que está a questão. Isso tem que ser submetido à população de São Paulo. Há espaço, precisa ter coragem.
FOLHA - Em caso de vitória, o sr. acha possível governar São Paulo com o apoio apenas do PSTU?
VALENTE - Quando uma campanha engloba a sociedade, você ganha um grande respaldo e apoio popular. O maior crime do governo Lula foi desmobilizar a força social de mudança e a esperança que ele despertou. Mesmo no PT e em outros partidos teria muita gente que gostaria de governar com o verdadeiro programa do partido, aquele que o governo abandonou. Aqui em São Paulo, no tempo da Erundina, o PT chegou nessa encruzilhada quando os vereadores tramaram o impeachment da Erundina. O PT teve que decidir entre molhar a mão dos vereadores, ceder às chantagens ou levar 30 mil pessoas para a porta da Câmara. Felizmente naquele momento ganhamos dentro do PT.
FOLHA - Quem no PT defendia "molhar a mão" dos vereadores?
VALENTE - Molhar a mão é atender as demandas, entrar no jogo do clientelismo. Dá pra governar com o movimento popular organizado.
FOLHA - E como o sr. espera apresentar todas essas propostas com o minúsculo tempo de TV do PSOL?
VALENTE - Tem os debates também, é aí é que a cobra vai fumar. Temos um diferencial, que se chama militância política. Eles têm os cabos eleitorais. Nós vamos fazer a diferença na rua. Nos debates vamos apresentar propostas para São Paulo, mas vamos explicitar que os candidatos que estão aí tentam a manutenção do poder a todo custo, que não têm proposta estruturante para São Paulo. A maioria dos candidatos está fazendo um trampolim para ir adiante. Nós queremos governar São Paulo para valer.
FOLHA - A candidatura do sr. também não é um trampolim para sua reeleição como deputado?
VALENTE - Mas isso é o natural, o PSOL está na rua diariamente, independentemente da campanha.
FOLHA - O que o sr. acha da candidatura de Heloísa Helena a vereadora em Maceió?
VALENTE - Isso visa manter a visibilidade dela, mas isso não quer dizer que ela não vá ajudar nacionalmente as outras candidaturas. É ter um mandato para depois alavancar.
FOLHA - O que o sr. pretende fazer na sua área, que é a da educação?
VALENTE - Quero dizer que a Marta Suplicy expulsou do partido, ela e a bancada, o Carlos Gianazzi, que é meu vice, porque eles mudaram a lei orgânica do município para diminuir a verba da educação. O Serra e o Kassab, gostaram da história e não mexeram. Então, a primeira coisa que eu vou fazer é passar para 30%, mandar uma lei mudando a lei orgânica.
FOLHA - Quais as propostas do sr. para o trânsito?
VALENTE - Quero perguntar aos partidos políticos que foram governos por que eles deram incentivos fiscais à indústria automobilística. Quem disser que vai resolver o problema do trânsito sem um planejamento de 12, 15 anos, está mentindo. Entre fazer a ponte estaiada [Octavio Frias de Oliveira], de R$ 200 milhões, e construir creches, casas populares, postos de saúde, faria outra opção.
Folha Online
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